Hoje, à mesa, falemos um pouco a respeito de provas. Se tivésseis
vindo a este lugar abençoado nos dias da manifestação da Luz evidente,
se tivésseis atingido a corte de Sua Presença e visto Sua beleza
luminosa, teríeis compreendido que Seus ensinamentos e Sua perfeição não
necessitavam de outra evidência.
Somente pela honra de entrarem em Sua Presença, muitas almas se
tornaram crentes confirmados; outras provas eram desnecessárias. Até
aqueles que O rejeitaram e Lhe tinham ódio amargo, ao encontrarem-se com
Ele, deram testemunho da grandeza de Bahá´u´lláh, dizendo: “É um homem
magnífico, mas, que pena ele ter tal pretensão! Se não fosse isso, tudo
o que ele diz seria aceitável.”
Mas agora que aquela Luz da Realidade se extinguiu, todos necessitam
de provas, e incumbe-nos, pois, apresentar provas lógicas de Sua
pretensão. Citaremos uma que será suficiente para todos aqueles que são
justos, e que ninguém pode contestar. É que esse ilustre Ser ergueu Sua
causa na “Maior Prisão”; desta Prisão foi difundida Sua luz; Sua fama
conquistou o mundo; e a proclamação de Sua glória atingiu Leste e Oeste.
Até os nossos tempos, jamais ocorreu tal coisa. Se houver justiça, isso
será admitido. Há pessoas, porém, que não julgarão com justiça, ainda
que lhes forem apresentadas todas as provas do mundo! Assim a religião e
o Estado da Pérsia, com todo o seu poder, não lograram resistir a Ele.
Em verdade, Ele, inteiramente só, encarcerado e oprimido, conseguia tudo
o que desejava.
Não quero mencionar os milagres de Bahá´u´lláh, pois se poderia
dizer, talvez, que sejam tradições, sujeitas tanto ao erro como à
verdade, semelhantes aos milagres de Cristo relatados no Evangelho, os
quais nos vêm dos apóstolos e não de qualquer outra pessoa, e que
contudo são negados pelos judeus. Se, entretanto, eu desejasse mencionar
os atos sobrenaturais de Bahá´u´lláh, poderia dizer que são numerosos e
admitidos no Oriente, até mesmo por pessoas estranhas à Causa. Mas
estas narrativas não constituem provas e evidências decisivas para
todos; quem as ouvir, poderá dizer talvez que não estejam de acordo com a
realidade, pois se sabe que várias seitas relatam milagres realizados
por seus fundadores. Os brâmanes, por exemplo, relatam milagres: qual a
evidência de serem estes falsos e aqueles verdadeiros? Se aqueles são
fábulas, os outros também o são; se aqueles são geralmente aceitos, os
outros também são geralmente aceitos. Por conseguinte, tais narrativas
não são provas satisfatórias. Sim, milagres são provas para a testemunha
ocular somente, e até esta pode-os considerar encantamento e não
milagres. Também de alguns mágicos têm sido relatados feitos
extraordinários.
Numa palavra, quero dizer que muitas coisas maravilhosas foram feitas
por Bahá´u´lláh, mas nós não as relatamos, porque não constituem provas
e evidências para todos os povos da terra. Nem para aqueles que os vêem
são provas decisivas, pis até por eles podem elas ser atribuídas ao
encantamento.
Também a maioria dos milagres dos Profetas que se menciona tem um
sentido interior. Encontra-se escrito no Evangelho, por exemplo, que na
ocasião do martírio de Cristo, trevas predominavam, e a terra tremia, e o
véu do templo se rasgou em duas partes de alto a baixo, e os mortos
saíram das sepulturas. Se tais coisas tivessem acontecido, teriam sido
de fato maravilhosas, e certamente a história da época as teria
registrado. Teriam perturbado muitos os corações. Os soldados teriam
tirado Cristo da cruz ou então fugido. História alguma relata esses
acontecimentos, o que torna evidente, pois, que não devem ser tomados em
seu sentido literal, mas sim, interior.
Não é nosso propósito negar tais milagres; queremos dizer apenas que
não constituem provas decisivas, mas que têm um sentido interior.
Hoje à mesa, então, nós nos referiremos à explicação das provas
tradicionais contidas nos Livros Sagrados. Até agora, temo falado
somente de provas lógicas.
A condição em que se deve estar, a fim de buscar seriamente a
verdade, é a da alma ardente, sequiosa da água da vida, ou a do peixe
que se esforça para alcançar o oceano, ou do paciente que se dirige ao
verdadeiro médico a fim de obter a cura divina, ou da caravana perdida
que se empenha em encontrar o caminho certo, ou do navio errante que
tenta atingir a costa da salvação.
Também aquele que busca deve possuir certas qualidades. Em primeiro
lugar, deve ser justo, e desprendido de tudo menos de Deus; seu coração
deve volver-se inteiramente para o horizonte supremo; ele deve estar
livre da escravidão dos vícios e das paixões, pois tudo isto serve de
obstáculo; além disso, deve ele ser capaz de suportar todas as durezas;
deve ser absolutamente puro e santificado, e desapegado do amor ou do
ódio dos habitantes do mundo. Por quê? Porque o fato de seu amor a uma
pessoa ou uma coisa poderia impedi-lo de reconhecer a verdade numa outra
e, igualmente, seu ódio de alguma coisa poderia ser um obstáculo para
seu discernimento da verdade. É esta a condição de quem busca; são estas
as qualidades que deve possuir. Até que ele atinja esta condição, não
lhe será possível alcançar o Sol da Realidade.
Voltemos agora a nosso assunto.
Todos os povos do mundo esperam dois Manifestantes, que devam ser
contemporâneos; todos esperam o cumprimento desta promessa. Na Bíblia,
os judeus têm a promessa do Senhor dos Exércitos e do Messias; no
Evangelho é prometida a volta de Cristo e de Elias. Na religião de
Maomé, há a promessa do Mihdi e do Messias, e é o mesmo com a religião
zoroástrica e com as outras, mas se tratássemos em detalhe destes
assuntos, tomaríamos tempo demais. O fato essencial é que em todas são
prometidos dois Manifestantes que deverão vir um após o outro. No tempo
destes dois Manifestantes, segundo a profecia, o mundo existente será
renovado e os seres se ataviarão em vestes novas. A justiça e a caridade
se espalharão pelo mundo inteiro; desaparecerão a inimizade e o ódio,
as causas de divergência entre os povos – entre as raças e as nações,
sendo substituídas por aquilo que cause unidade, harmonia e concórdia.
Os negligentes despertarão; os cegos adquirirão vista, os surdos,
ouvido, e os mudos poderão falar; os enfermos serão curados, e os
mortos, ressuscitados. A paz haverá de substituir a guerra; o amor
conquistará a inimizade; as causas de disputa e contenda serão removidas
inteiramente e se realizará a verdadeira felicidade. Todas as nações
tornar-se-ão uma só; as religiões serão unificadas; todos os homens
serão de uma só família e da mesma raça. Todas as regiões da terra serão
como uma só; as superstições causadas por raças, países, indivíduos,
línguas e política desaparecerão; todos os homens atingirão a vida
eterna, abrigados à sombra do Senhor dos Exércitos.
Agora devemos provar pelos Livros Sagrados que esses dois
Manifestantes já vieram, e devemos descobrir o significado das palavras
dos Profetas, pois desejamos provas tiradas dos Livros Sagrados.
Há poucos dias, à mesa, expusemos provas lógicas, estabelecendo a verdade desses dois Manifestantes.
Enfim no Livro de Daniel, (1) desde a reconstrução de Jerusalém até o
martírio de Cristo, setenta semanas são apontadas; pois pelo martírio
de Cristo, é consumado o sacrifício e destruído o altar. É uma profecia
da manifestação de Cristo. Essas setenta semanas começam com a
restauração e reconstrução de Jerusalém, concernente ao que foram
emitidos quatro éditos, por três reis.
O primeiro foi emitido por Cyrus no ano de 536 A.C.; este é
mencionado no primeiro capítulo do Livro de Ezra. O segundo édito,
referente à reconstrução de Jerusalém, é o de Dario da Pérsia no ano de
519 A.C.; este é mencionado no sexto capítulo de Ezra. O terceiro é o de
Artaxerxes no sétimo ano de seu reinado, isto é, em 457 A.C.; segundo
consta do sétimo capítulo de Ezra. O quarto é o de Artaxerxers no ano de
444 A.C.; este é mencionado no segundo capítulo de Neemias.
Mas Daniel se refere especialmente ao terceiro édito, emitido no ano
de 457 A.C. Setenta semanas fazem quatrocentos e noventa dias. Cada dia,
segundo o texto do Livro Sagrado, é um ano.” (1) Quatrocentos e noventa
dias, pois, são quatrocentos e noventa anos. O terceiro édito de
Artaxerxes foi emitido quatrocentos e cinqüenta e sete anos antes do
nascimento de Cristo, e Cristo, quando foi martirizado e ascendeu, tinha
trinta e três anos de idade. Quando se acrescenta trinta e três a
quatrocentos e cinqüenta e sete, o resultado é quatrocentos e noventa,
que é o tempo anunciado por Daniel para a manifestação de Cristo.
No vigésimo quinto versículo do nono capítulo do Livro de Daniel,
porém, isso é expresso de outra maneira, como sete semanas e sessenta e
duas semanas, o que aparentemente difere da primeira declaração. Por
causa desta diferença, muitos se tornam perplexos ao tentarem
reconciliar as duas afirmações. Como podem setenta semanas ser certas
num lugar, e sessenta e duas semanas e sete semanas em outro? As duas
exposições não concordam.
Daniel menciona, entretanto, duas datas. Uma começa com a ordem de
Artaxerxes a Ezra para a reconstrução de Jerusalém; esta é das setenta
semanas que terminaram com a ascensão de Cristo, quando por Seu martírio
cessaram o sacrifício e a oblação.
O segundo período, ao qual se refere o vigésimo sexto versículo, quer
dizer que após o término da reconstrução de Jerusalém até a ascensão de
Cristo, haverá sessenta e duas semanas; as sete semanas são o tempo que
durou a reconstrução de Jerusalém, ou sejam quarenta e nove anos.
Quando se adicionam estas sete semanas às sessenta e duas semanas, fazem
sessenta e nove semanas, e na última (69-70) ocorreu a ascensão de
Cristo. Estas setenta semanas são assim completadas, e não há
contradição.
Já que foi provada pelas profecias de Daniel a manifestação de
Cristo, provemos agora a de Bahá´u´lláh e a do Báb. Anteriormente temos
mencionado apenas provas lógicas; falaremos agora de provas
tradicionais.
No oitavo capítulo do Livro de Daniel, versículo 13, se lê: “Então
ouvi eu um dos santos que falava; e um outro santo perguntou àquele que
falava: “Até quando durará a visão relativa ao sacrifício diário, e o
pecado da desolação, e até quando serão pisados aos pés o santuário e a
fortaleza?” Respondeu ele então (V. 14): “Até dois mil e trezentos dias;
então o santuário será purificado”; (V. 17) “Mas ele me disse... esta
visão se cumprirá no fim a seu tempo.” Quer isto dizer: quanto tempo
haverá de durar esse infortúnio, essa ruína, essa humilhação e
degradação? Isto é, quando será a alvorada do Manifestante? Então
respondeu ele, “Doze mil e trezentos dias; então será purificado o
santuário.” Significa esta passagem, enfim, que ele aponta dois mil e
trezentos anos, pois no texto da Bíblia cada dia é um ano. Assim, desde a
data em que foi emitido o édito de Artaxerxes para reconstruir
Jerusalém até o dia do nascimento de Cristo, há 456 anos, e do
nascimento de Cristo até o dia da manifestação do Báb, há 1844 anos.
Quando se acrescenta 456 anos a esse número, se tem 2.300 anos. Isto
quer dizer, o cumprimento da visão de Daniel ocorreu no ano de 1844
A.D., o qual é o ano da manifestação do Báb, assim concordando com o
texto exato do Livro de Daniel. Vede com que clareza ele determina o ano
da manifestação; não poderia haver profecia mais clara do que esta para
uma manifestação.
Em S. Mateus, capítulo 24, versículo 3, Cristo diz claramente que o
que Daniel queria dizer com essa profecia foi a data da manifestação.
Eis o versículo: “Enquanto estava assentado no Monte das Oliveiras, se
chegaram a ele seus discípulos em particular, perguntando-lhe:
“Dize-nos, quando sucederão estas coisas? e que sinal haverá de tua
vinda, e da consumação do século?” Uma das explicações que Ele lhes deu
em resposta foi esta (V. 15): “Quando vós pois virdes a abominação da
desolação que foi predita pelo profeta Daniel, estai no lugar santo (o
que lê, entenda).” Nesta resposta Ele diz que devem ler o oitavo
capítulo do Livro de Daniel, e quem o ler deverá entender ser este o
tempo ao qual se refere. Considerai com que clareza é mencionada no
Velho Testamento e no Evangelho a manifestação do Báb.
Agora vamos explicar a data da manifestação de Bahá´u´lláh segundo a
Bíblia. A data de Bahá´u´lláh é calculada de acordo com os anos lunares
desde a missão e a Héjira de Maomé, pois na religião de Maomé, é usado o
ano lunar, como o é também em todas as ordens de adoração.
No Livro de Daniel, capítulo 12, versículo 6, está escrito: “E disse
alguém ao homem que estava vestido de roupas de linho, o qual se
sustinha em pé sobre as águas do rio: - Quando se cumprirão estas
maravilhas? – E eu ouvi que este homem que estava vestido de roupas de
linho e se sustinha em pé sobre as águas do rio, tendo levantado ao céu a
sua mão direita, e a mão esquerda, jurou nesta ação por aquele que vive
eternamente, que isso seria depois de um tempo, e dois tempos e metade
de um tempo. E todas estas coisas se cumprirão quando se acabar a
dispersão do ajuntamento do povo santo.”
Como já expliquei o que significa um dia, não é necessário explicá-lo
mais; mas diremos, em poucas palavras, que cada dia do Pai conta como
um ano, e em cada ano há doze meses. Assim três anos e meio fazem
quarenta e dois meses, nos quais há mil duzentos e sessenta dias. O Báb,
precursor de Bahá´u´lláh, apareceu no ano de 1260 da Héjira de Maomé,
segundo o calendário do Islã.
Depois, no versículo 11, se lê: “E desde o tempo em que o sacrifício
perpétuo for abolido, e a abominação para a desolação for posta,
passarão mil e duzentos e noventa dias. Bem-aventurado o que espera, e
que chega até mil e trezentos e trinta e cinco dias!”
O começo deste cálculo lunar é desde o dia da proclamação de ser
Maomé profeta, na região de Hijaz, o que foi três anos após Sua missão;
porque, de início, foi guardado em segredo o fato de ser Maomé profeta,
não o sabendo ninguém exceto Khadija e Ibn Naufal. (1) Depois de três
anos foi anunciado. E Bahá´u´lláh, no ano (2) de 1290 depois da
proclamação da missão de Maomé, tornou conhecida Sua manifestação.
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