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terça-feira, 13 de março de 2012

COMENTÁRIO SOBRE O DÉCIMO PRIMEIRO CAPÍTULO DA REVELAÇÃO DE SÃO JOÃO (Apocalipse 11)

No começo do décimo primeiro capítulo da Revelação de São João está escrito:

"E deu-se-me uma cana semelhante a uma vara, e esteve lá o anjo, dizendo: - Levanta-te, e mede o templo de Deus, e o altar, e os que nele fazem as suas adorações.

"Mas o átrio, que está fora do templo, deixa-o de fora, e não o meças, porque ele foi dado aos gentios, e eles hão de pisar com os pés a cidade santa por quarenta e dois meses."

Esta cana é um homem perfeito que se assemelha a uma cana, e a maneira de sua semelhança é esta; quando o interior de uma cana está vazio e livre de toda matéria, pode produzir belas melodias; e como o som e as melodias não provêm da cana, mas sim, do flautista que a toca, também o coração desse bendito ser está vazio e livre de tudo menos de Deus, puro e isento dos laços de todas as condições humanas, e é o companheiro do Espírito Divino. O que ele diz não procede dele mesmo mas do verdadeiro flautista, e é uma inspiração divina. É por isso que ele é comparado a uma cana; e esta cana é como uma vara, isto quer dizer, é uma ajuda para todo incapacitado, o sustentáculo dos seres humanos. É a vara do Pastor Divino com a qual Ele guarda Seu rebanho e o conduz pelos pastos do Reino.

Então se diz: "E esteve lá o anjo, dizendo: Levanta-te, e mede o templo de Deus, e o altar, e os que nele fazem as suas adorações"; quer isto dizer, comparar e medir; pela medição se descobre a proporção. Assim disse o anjo: Compara o templo de Deus e o altar e aqueles que aí oram, isto é, investiga sua verdadeira condição, descobre em que grau estão, quais são suas qualidades, perfeições, conduta, e que atributos possuem, e informa-te dos mistérios dessas almas santas que habitam o Santo dos Santos, em pureza e santidade.

"Mas o átrio que está fora do templo, deixa-o de fora, e não o meças, porque ele foi dado aos gentios."

No princípio do sétimo século depois de Cristo, quando Jerusalém foi conquistada, o Santo dos Santos foi preservado exteriormente; isto quer dizer, a casa que Salomão construiu; mas fora do Santo dos Santos o átrio foi dado aos gentios. "E eles hão de pisar com os pés a cidade santa por quarenta e dois meses", isto é, os gentios haverão de governar e controlar Jerusalém por quarenta e dois meses, significando mil duzentos e sessenta dias; e como cada dia significa um ano, assim isso quer dizer mil e duzentos e sessenta anos, o que é a duração do ciclo do Alcorão. Pois nos textos do Livro Sagrado, cada dia é um ano; assim como diz no quarto capítulo de Ezequiel, versículo 6: "Tomarás sobre ti a iniqüidade da casa de Judá por quarenta dias; é um dia que eu te dei por cada ano."

Estas profecias são desde o tempo do aparecimento do Islã, quando Jerusalém foi pisada com os pés, o que significa que foi desonrada. Mas o Santo dos Santos foi preservado, protegido e respeitado; e esses acontecimentos continuaram até 1260. Estes mil duzentos e sessenta anos se referem à manifestação do Báb (1) de Bahá'u'lláh, o que ocorreu no ano 1260 da Héjira de Maomé, e como o período de mil duzentos e sessenta anos já findou, Jerusalém, a Cidade Santa, está começando agora a prosperar, tornando-se populosa e florescente. Qualquer pessoa que viu Jerusalém há sessenta anos passados e a vê agora, deve reconhecer quanto tem crescido e prosperado e como está sendo outra vez honrada.

É este o significado exterior destes versículos da Revelação de São João, mas eles têm outra explicação e um sentido simbólico, que é o seguinte: a Lei de Deus se divide em duas partes. Uma é a base fundamental que abrange todas as coisas espirituais: isto é, se refere às virtudes espirituais e qualidades divinas, e é imutável, inalterável; é o Santo dos Santos, que é a essência da Lei de Adão, Noé, Abraão, Moisés, Cristo, Maomé, do Báb e de Bahá'u'lláh, a qual dura sempre, sendo estabelecida em todos os ciclos proféticos. Jamais será ab-rogada, pois é verdade espiritual e não material; é fé, conhecimento, certeza, justiça, piedade, retidão, integridade, amor a Deus, paz interior, pureza, desprendimento, humildade, submissão, paciência e constância. Tem compaixão do pobre, defende o opresso, mostra generosidade ao indigente e levanta o caído.

Estas qualidades divinas, estes mandamentos eternos, jamais serão abolidos, mas, sim, durarão, estabelecendo-se firmemente para sempre. Estas virtudes da humanidade renovam-se em cada um dos vários ciclos, pois no fim de cada ciclo, a Lei espiritual de Deus – isto quer dizer, as virtudes humanas – desaparece, persistindo apenas a forma. Assim entre os judeus, no fim do ciclo de Moisés, que coincide com a manifestação de Cristo, desapareceu a Lei de Deus, restando apenas uma forma sem espírito. Do Santo dos Santos foram privados; mas o átrio de fora de Jerusalém – expressão esta usada para indicar a forma da religião – caiu nas mãos dos gentios. Do mesmo modo, os princípios fundamentais da religião de Cristo, os quais são as maiores virtudes da humanidade, desapareceram, restando a forma nas mãos do clero, dos padres. Igualmente desapareceu a base da religião de Maomé, mas sua forma permanece nas mãos dos ulemás oficiais.

Esses fundamentos da Religião de Deus, que são espirituais e as virtudes da humanidade, não podem ser ab-rogados; são irremovíveis, eternos, e se renovam no ciclo de cada Profeta.

A segunda parte da Religião de Deus, referente ao mundo material, a qual inclui jejum, formas de oração, casamento e divórcio, a abolição da escravidão, processos legais, transações, indenizações por assassínio, violência, roubo e ofensas – esta parte da Lei de Deus que trata das coisas materiais, é modificada em cada ciclo profético de acordo com as necessidades do tempo.

Numa palavra, o que significa o termo Santo dos Santos é aquela Lei espiritual que nunca há de ser alterada ou rescindida, enquanto que Cidade Santa significa a lei material, lei esta sujeita à anulação. E esta lei material, descrita como a Cidade Santa, ia ser pisada sob os pés por mil duzentos e sessenta anos.

"E eu darei poder às minhas duas testemunhas, e, vestidas de saco, profetizarão por mil e duzentos e sessenta dias". Essas duas testemunhas são Maomé, o Mensageiro de Deus, e Áli, filho de Abu Talib.

No Alcorão está escrito que Deus se dirigiu a Maomé, o Mensageiro de Deus, dizendo: "Fizemos de vós uma Testemunha, um Arauto de boas novas e um Admoestador." Quer isso dizer, Nós te estabelecemos como a testemunha, o portador de boas novas e como quem adverte sobre a ira de Deus. (1) O significado de "testemunha" é aquele por cujo testemunho coisas podem ser verificadas. Os mandamentos dessas duas testemunhas seriam cumpridos mil duzentos e sessenta dias, sendo que cada dia significa um ano. Ora, Maomé foi a raiz, e Ali o ramo, assim como Moisés e Josué. Está escrito que eles "estão vestidos de saco", significando que, aparentemente, seriam vestidos em roupas velhas, e não novas; em outras palavras, de início, não possuiriam eles esplendor algum aos olhos do povo, nem pareceria nova a sua Causa; pois a Lei espiritual de Maomé corresponde à de Cristo no Evangelho, e a maioria de Suas leis relativas às coisas materiais corresponde às do Pentateuco. Eis o que significa a vestimenta velha.

Depois se diz: "Estes são as duas oliveiras e os dois candeeiros, postos diante do Deus da terra". Essas duas almas são comparadas a oliveiras porque naquele tempo todas as lâmpadas se acendiam com azeite de oliva. Significa, pois, duas pessoas que irradiam aquele espírito da sabedoria de Deus, a causa da iluminação do mundo. Essas luzes de Deus haveriam de brilhar e resplandecer, sendo assim semelhantes a dois candeeiros – o candeeiro é onde reside a luz e donde se irradia. Do mesmo modo cintilaria a luz que guia, emitida por essas almas iluminadas.

Em seguida está escrito: "Estão postos diante de Deus", o que significa que estão a serviço de Deus, educando Suas criaturas, tais como as bárbaras tribos nômades da península árabe, as quais eles educaram de tal maneira que naquele tempo alcançaram o mais alto grau de civilização, tornando-se mundiais sua fama e seu renome.

"Se alguém, pois, lhes quiser fazer mal, sairá fogo das suas bocas, que devorará os seus inimigos." Quer isso dizer que ninguém lhes poderia resistir; se uma pessoa quisesse menosprezar seus ensinamentos e sua Lei, tal pessoa seria cercada e destruída por esta mesma Lei que procedia de suas bocas, e todo aquele que tentasse ofendê-los e lhes mostrar antagonismo e ódio, seria exterminado por um mandamento que sairia de suas bocas. E assim aconteceu: todos os seus inimigos foram vencidos, postos em fuga e aniquilados. De um modo tão evidente Deus os ajudou.

Está escrito em seguida: "Eles têm poder de fechar o céu para que não chova, pelo tempo que durar sua profecia", o que significa que nesse ciclo seriam como reis. A Lei e os ensinamentos de Maomé, e as explicações e os comentários de Ali, são graças celestiais; quando Eles desejam dispensá-las, têm o poder de assim fazer. Se não quiserem, a chuva não cairá, sendo que a chuva simboliza graças.

Diz-se depois: "Têm poder sobre a água, para a converter em sangue", significando ser a condição de profeta própria de Maomé assim como o fora de Moisés, e ser o poder de Ali igual ao de Josué: se assim quisessem, poderiam converter a água do Nilo em sangue, para os egípcios e aqueles que os negavam. Quer isso dizer: o que era causa de sua vida, tornar-se-ia causa de sua morte, devido a sua ignorância e seu orgulho. Assim a soberania, a riqueza e o poder de Faraó e de seu povo – fontes da vida da nação – em conseqüência de sua hostilidade, rejeição e arrogância, tornaram-se causa de sua morte – foram dispersos, degradados, destituídos, aniquilados. Essas duas testemunhas têm, pois, o poder de destruir as nações.

E em seguida: "E de ferir a terra com todo o gênero de pragas, todas as vezes que quiserem", o que significa que também teriam o poder e a força material necessária para educar os iníquos e aqueles que são opressores e tiranos; pois a essas duas testemunhas Deus concedeu tanto o poder exterior como o interior, para que pudessem educar e corrigir os árabes nômades, tão ferozes, sanguinários e tirânicos, semelhantes a animais de rapina.

"E depois de eles terem acabado de dar o seu testemunho," quer dizer: quando tiverem desempenhado o que lhes fora ordenado, havendo transmitido a Mensagem Divina, promovido a Lei de Deus e propagado os ensinamentos celestiais, a fim de que se manifestassem nas almas os sinais da vida espiritual, se irradiasse a luz das virtudes do mundo humano, até ser realizado entre as tribos nômades um desenvolvimento completo.

A "fera que sobe do abismo fará contra eles guerra e vencê-los-á e matá-los-á" se refere a Bani-Umayya, (1) que os atacou do abismo do erro e se levantou contra a religião de Maomé e contra a realidade de Ali, ou seja, contra o amor de Deus.

Diz: "A fera fará contra eles (essas duas testemunhas) guerra" – isto é, uma guerra espiritual, o que significa que "a fera" agiria em inteira oposição aos ensinamentos, costumes e instituições dessas duas testemunhas, a tal ponto que as virtudes e perfeições difundidas pelo poder dessas testemunhas entre os povos e tribos se desvaneceriam completamente, e a natureza animal e os desejos carnais venceriam. Assim, pois, a guerra vitoriosa travada contra eles por essa fera, quer dizer: a escuridão do erro proveniente dessa fera haveria de exercer domínio sobre os horizontes do mundo e matar aquelas duas testemunhas, ou, em outras palavras, destruiria a vida espiritual por elas difundida em meio à nação e eliminaria totalmente as leis e ensinamentos divinos, espezinhando a Religião de Deus e nada deixando, pois, senão um corpo inanimado, sem espírito.

"E os seus corpos jazerão estirados nas praças da grande cidade que se chama espiritualmente Sodoma e Egito, onde também o nosso Senhor foi crucificado." "Os seus corpos" significam a Religião de Deus e "nas praças" quer dizer à vista do público. O significado de "Sodoma e Egito", o lugar "onde também o nosso Senhor foi crucificado" é esta região da Síria, e especialmente Jerusalém, onde os Bani-Umayya tinham então seus domínios; e foi aqui que primeiro desapareceram a Religião de Deus e os ensinamentos divinos, restando assim um corpo sem espírito. "Seus corpos" representam a Religião de Deus, a qual se assemelha a um corpo morto, destituído de espírito.

"E os das tribos, e povos, e línguas e nações verão os corpos deles estirados por três dias e meio, e não permitirão que os seus corpos sejam postos em sepulcros."

Como se já explicou, na terminologia dos Livros Sagrados três dias e meio significam três anos e meio, os quais são quarenta e dois meses, ou sejam mil e duzentos e sessenta dias; e como cada dia, segundo o texto do Livro Sagrado, significa um ano, isso quer dizer que por mil e duzentos e sessenta anos, isto é, durante o ciclo do Alcorão, as nações, tribos e raças olhariam para seus corpos, ou fariam um espetáculo da Religião de Deus. Embora não agissem de acordo com ela, não permitiriam, todavia, que seus corpos – ou seja a Religião de Deus – fossem postos em sepulcros. Quer isto dizer: aparentemente, adeririam à Religião de Deus não permitindo que desaparecesse completamente de seu meio, nem que seu corpo fosse de todo destruído e aniquilado. Na realidade, porém, haveriam de abandoná-la, embora preservando seu nome e sua comemoração exteriormente.

Essas "tribos, povos e nações" significam aqueles que se reúnem à sombra do Alcorão e não permitem que a Causa de Deus e Sua Lei sejam exteriormente destruídas, aniquiladas por completo, pois ainda existem entre eles oração e jejum, embora tenham desaparecido os princípios fundamentais da Religião de Deus, ou sejam a moralidade e a conduta, e o conhecimento dos mistérios divinos; extinguiu-se a luz das virtudes do mundo humano, as quais dependem do amor e do conhecimento de Deus, enquanto as trevas da tirania, da opressão, dos desejos e paixões satânicas, se tornaram vitoriosas. O corpo da Lei de Deus, semelhante a um cadáver, foi exposto à vista pública durante mil duzentos e sessenta dias, sendo cada dia contado como um ano, e este período é o ciclo de Maomé.

Os povos perderam seu direito a tudo o que essas duas pessoas haviam estabelecido, ou seja à base da Lei de Deus, e destruíram as virtudes do mundo humano – isto é, as dádivas divinas e o espírito dessa Religião – a tal ponto que desapareceram de seu meio a veracidade, a justiça, o amor, a união, a pureza, a santidade, o desprendimento e todas as qualidades divinas. Apenas persistiam na religião a prece e o jejum, sendo que por mil duzentos e sessenta anos, enquanto durava o ciclo do Furqan (1) continuou assim. Foi como se essas duas pessoas estivessem mortas, restando-lhes apenas o corpo, sem o espírito.

"E os habitantes da terra se alegrarão sobre eles, e farão festas, e mandarão presentes uns aos outros, porque estes dois profetas tinham atormentado os que habitavam sobre a terra." "Os habitantes da terra" significam as outras nações e raças, como os povos da Europa e da Ásia longínqua, pois quando viram a completa transformação no caráter do Islã – havendo sido abandonada a Lei de Deus e perdidas as virtudes, o zelo e a honra – eles se alegraram e se encheram de júbilo porque o povo do Islã em conseqüência de sua corrupção moral, seria vencido por outras nações. Assim veio isto a se realizar. Observai a degradação desse povo que atingira o cume do poder; vede como está agora espezinhado.

Os outros povos "mandarão presentes uns aos outros". Significa isso que haveriam de se ajudar uns aos outros, pois "estes dois profetas tinham atormentado os que habitavam sobre a terra" – isto é, venceram os outros povos e nações do mundo e os subjugaram.

"Mas depois de três dias e meio o espírito de vida entrou neles, da parte de Deus, e eles se levantaram sobre seus pés, e, dos que os viram, se apoderou um grande temor." Três dias e meio, como já mostramos, significam mil duzentos e sessenta anos. As duas pessoas cujos corpos jaziam sem espírito são os ensinamentos e a Lei estabelecidos por Maomé – ensinamentos estes que Ali promoveu mas que vieram depois a perder sua realidade, conservando apenas a forma. O espírito entrou novamente neles; isto é, se estabeleceram mais uma vez aqueles ensinamentos fundamentais. Em outras palavras, a espiritualidade da Religião Divina se transformara em materialidade, as virtudes em vícios. Ódio substituíra o amor a Deus; treva, a iluminação. Qualidades divinas se haviam mudado em satânicas – justiça em tirania, clemência em inimizade, sinceridade em hipocrisia, verdade em erro e pureza em sensualidade. Então, após três dias e meio, ou sejam mil duzentos e sessenta anos, segundo a terminologia dos Livros Sagrados, esses ensinamentos divinos, essas virtudes celestiais, perfeições e graças espirituais, foram renovados com o aparecimento do Báb e pela devoção de Janabi Quddus.(1)

Os sopros da santidade difundiram-se e a luz da verdade resplandeceu; veio a primavera ressuscitadora e o amanhecer da iluminação. Aqueles dois corpos inanimados tornaram-se vivos, ao surgirem estes dois grandes Seres, fundador e promotor, semelhantes a dois candeeiros, pois iluminaram o mundo com a luz da verdade.

"E ouviram uma grande voz do céu que lhe dizia: Subi para cá. E subiram ao céu" – o que significa que ouviram do céu invisível a voz de Deus, dizendo: "Já cumpristes plenamente com vosso dever de transmitir os ensinamentos e as boas-novas; destes Minha Mensagem ao povo e levantastes o chamado de Deus, completando assim vossa missão. Agora, como Cristo, deveis sacrificar a vida pelo Bem-Amado, deveis sofrer o martírio. E esse Sol da Realidade e essa Lua da Orientação, (1) ambos, se puseram no horizonte do maior martírio, assim como fizera Cristo, e ascenderam ao Reino de Deus.

"E os viram os inimigos deles" – isto é, muitos de seus inimigos depois de terem presenciado seu martírio, perceberam sua sublimidade e excelsa virtude, e assim deram testemunho de sua grandeza e sua perfeição.

"E naquela hora sobreveio um grande terremoto, e caiu a décima parte da cidade; e no terremoto foram mortos sete mil homens." Ocorreu este terremoto em Shíráz após o martírio do Báb. A cidade estava em caos, sendo destruídas muitas pessoas. Houve grande agitação, também, em conseqüência de cólera e outras moléstias, fome e aflições jamais vistas.

"E os sobreviventes foram atemorizados e deram glória ao Deus do céu." Quando ocorreu o terremoto em Fars, todos que sobreviveram lamentaram dia e noite, suplicando a Deus e Lhe dando glória. Tão agitados e atemorizados estavam que lhes era impossível dormir ou descansar à noite.

"É passado o segundo ai, e eis aqui o terceiro, que cedo virá." O primeiro ai é o aparecimento do Profeta Maomé – paz seja com Ele! O segundo ai é o do Báb – a Ele glória e louvor! O terceiro ai é o grande dia da manifestação do Senhor dos Exércitos e do esplendor da Beleza do Prometido. A explicação deste termo, "ai", é mencionada no trigésimo capítulo de Ezequiel, versículos 1, 2 e 3, onde diz: "E foi-me dirigida a palavra do Senhor, a qual dizia: "Filho do homem, profetiza e dize: Isto diz Senhor Deus: Daí urros, ai, ai do dia; porque o dia está perto, e se apropinqua o dia do Senhor". É certo, pois que o dia do ai é o dia do Senhor, pois neste dia ai é para os desatentos, ai é para os pescadores, ai é para os ignorantes. Por isso se diz: "É passado o segundo ai, e eis aqui o terceiro, que cedo virá!" Este terceiro ai é o dia da manifestação de Bahá'u'lláh, o Dia de Deus, o que é próximo ao dia do aparecimento do Báb.

"E o sétimo anjo tocou a trombeta, e ouviram-se no céu grandes vozes que diziam: Os reinos deste mundo passaram a ser os reinos de nosso Senhor e de Seu Cristo; e Ele reinará para sempre e sempre."

O sétimo anjo é um homem dotado de atributos celestiais, que se levantará manifestando essas qualidades e um caráter celestial. Vozes se farão ouvir: o aparecimento do Manifestante Divino será proclamado e difundido. No dia em que se manifestar o Senhor dos Exércitos, ou seja na época do ciclo divino do Onipotente – época esta que todos os livros e escritos dos Profetas prometem – neste Dia de Deus, será estabelecido o Reino Espiritual, Divino, e renovado assim o mundo. Um espírito novo insuflar-se-á no corpo da criação; virá a estação da primavera divina, quando cairá chuva das nuvens da misericórdia, brilhará o sol da realidade, brisas ressuscitadoras soprarão, vestes novas adornarão o mundo humano e a superfície da terra será um paraíso sublime. A humanidade será educada: desaparecerão guerras, disputas, brigas e malignidade, sendo substituídas por veracidade, justiça, honra e devoção a Deus; predominarão no mundo união, amor e fraternidade, e Deus reinará para sempre. Quer isso dizer que será estabelecido o Reino Espiritual e Eterno. É assim o Dia de Deus. Pois todos os dias passados foram os dias de Abraão, Moisés e Cristo, ou dos outros Profetas, mas este é o Dia de Deus, porque nele se levantará o Sol da Realidade em plena glória.

"E os vinte e quatro anciões que diante de Deus estavam assentados nas suas cadeiras, se prostaram sobre os seus rostos e adoraram a Deus, dizendo:

"Graças Te damos, Senhor Deus Todo-poderoso, que és, e que eras, e que hás de vir; por haveres recebido o Teu grande poderio e entrado no Teu Reino."

Em cada ciclo foram doze os guardiões e almas santas. Assim Jacob teve doze filhos; no tempo de Moisés, houve doze chefes das tribos; no tempo de Cristo, doze apóstolos; e no tempo de Maomé houve doze Imames. Mas nesta manifestação gloriosa, há vinte e quatro, o dobro do número dos outros, pois a grandeza desta manifestação assim requer. Estas almas santas estão na presença de Deus, sentadas em seus próprios tronos; significando isto que reinam eternamente.

Essas vinte e quatro grandes pessoas, embora estejam sentadas nos tronos do domínio eterno, adoram, no entanto, o Manifestante universal, quando aparece, e são humildes e submissos, dizendo, "Graças Te damos, Senhor Deus Todo-poderoso, que és, e que eras, e que hás de vir; por haveres recebido o Teu grande poderio e entrado no Teu Reino." Quer isso dizer: Tu emitirás todos os Teus ensinamentos, reunirás todos os povos da terra à Tua sombra e abrigarás todos os homens sob uma só tenda. Embora seja isso o Eterno Reino de Deus, e Ele tenha possuído sempre e ainda possua um Reino, o significado aqui de "Reino" é a manifestação Dele Próprio (1) e Ele dará todas as leis e todos os ensinamentos que são o espírito do mundo humano e da vida eterna. E este Manifestante universal vencerá o mundo com poder espiritual e não por meio de guerra e combate; fará isso com paz e tranqüilidade e não pela espada ou por qualquer arma. Estabelecerá este Reino Celestial por meio do amor verdadeiro, e não pelo poder da guerra. Com bondade e retidão, promoverá Ele esses ensinamentos divinos, e não recorrendo à força ou crueldade. A tal ponto educará as nações e raças que, apesar de suas várias condições, seus costumes e caracteres diferentes, suas religiões e origens étnicas diversas, todas, assim como diz a Bíblia, semelhantes ao lobo e o carneiro, ao leopardo e o cabrito, e à criança de peito e a serpente, se tornarão companheiras e amigas. Serão inteiramente removidas as lutas entre raças, as divergências de religião e as barreiras entre nações, havendo todos de se reconciliar e atingir perfeita união à sombra da Árvore Bendita.
"E as gentes se irritaram", pois Teus ensinamentos se opõem às paixões dos outros povos; e "chegou a Tua ira", isto é, todos sofrerão prejuízo evidente; porque não seguem Teus preceitos, conselhos e ensinamentos, serão privados de Tua misericórdia eterna e velados à luz do Sol da Realidade.

"E o tempo de serem julgados os mortos" significa ter vindo o tempo em que os mortos – ou sejam os privados do espírito do amor de Deus e da santa vida eterna – serão julgados com justiça, isto é, levantar-se-ão para receber o que merecem. Ele tornará evidente a realidade de seus segredos, mostrando como é baixa sua condição no mundo existente, e que estão, realmente, sob o domínio da morte.

"E de dar o galardão aos profetas Teus servos, e aos santos e aos que temem o Teu Nome, aos pequenos e aos grandes." Isto é: Ele distinguirá os retos com infinitas graças, fazendo-os brilhar no horizonte da honra eterna, assim como as estrelas do céu. Ajudá-los-á dotando-os de conduta e ações que sejam a luz do mundo humano, o meio de guiar a humanidade e lhe conceder a vida eterna no Reino Divino.

"E de exterminar os que corromperam a terra" significa que Ele privará totalmente os desatentos; pois estará manifesta a cegueira dos cegos, como também a visão dos que vêem. A ignorância do povo do erro será reconhecida, enquanto se tornarão evidentes os conhecimentos e a sabedoria do povo guiado. Assim, pois, serão destruídos os destruidores.

"Então foi aberto no céu o templo de Deus" quer dizer que a Jerusalém divina foi descoberta e o Santo dos Santos se tornou visível. Segundo a terminologia do povo da sabedoria, o Santo dos Santos significa a essência da Lei Divina e os verdadeiros ensinamentos celestiais do Senhor, que não são alterados no ciclo de Profeta algum, como já explicamos. O santuário de Jerusalém assemelha-se à realidade da Lei de Deus, a qual é o Santo dos Santos, enquanto todas as leis e convenções, os ritos e regulamentos materiais são a cidade de Jerusalém. É por isso que é chamada a Jerusalém celestial. Numa palavra, como neste ciclo o Sol da Realidade fará a Luz Divina brilhar com o máximo esplendor, assim a essência dos ensinamentos de Deus será realizada no mundo existente – será dissipada a treva da ignorância, o mundo se tornará um novo mundo, e a iluminação predominará. Assim aparecerá o Santo dos Santos.

"Então foi aberto no céu o templo de Deus" também significa que pela difusão dos ensinamentos divinos, com o aparecimento dos mistérios celestiais e o nascer do Sol da Realidade, se abrirão por todos os lados as portas da prosperidade, e se tornarão evidentes os sinais da bondade e das bênçãos celestiais.

"E apareceu a arca de seu testamento no seu templo". Quer isso dizer: o Livro de Seu Testamento aparecerá em Sua Jerusalém, estabelecer-se-á a Epístola do Convênio, (1) e o significado do Testamento e do Convênio se tornará evidente. O renome de Deus se estenderá por Leste e Oeste, e a proclamação da Causa de Deus encherá o mundo. Os que violaram o Convênio serão degradados e postos em debandada, enquanto carinho e glória caberão aos fiéis, por se haverem segurado ao Livro do Testamento e se mantido firmes e constantes.

"E sobrevieram relâmpagos e vozes, e trovões, e um terremoto, e uma grande chuva de pedra", o que significa que, depois de aparecer o Livro do Testamento, haverá uma grande tempestade, e os relâmpagos da ira de Deus fulgurarão, ressoará o trovão do rompimento do Convênio, ocorrerá o terremoto das dúvidas, o granizo dos tormentos afligirá os violadores do Convênio, e até aqueles que professam a fé cairão em dificuldades e tentações.

    ('Abdu'l-Bahá, Respostas a Algumas Perguntas. Editora Bahá'í do Brasil. Mogi Mirin, 2007. p. 55. ISBN: 85-320-OO63-O)

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